quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Daquilo que não queremos expôr e dos acúmulos desnecessários



Por sofrer de vulnerabilidade
construiu fortalezas em volta do coração.
Ninguém mais entraria pra fazer bagunça.
No entanto, toda a circulação foi comprometida.
Acabou sofrendo de intransponibilidade.

Pensou em mudanças,
mas nada do que estava dentro saía,
nada do que estava fora entrava.
Pensou em por fogo em tudo,
mas era como alimentar a chama que já existia lá dentro e não se apagava.
Certo era que restariam somente as cinzas,
mas tinha coisas que não mereciam ser queimadas,
nem seu corpo debilitado 
que certamente não conseguiria fugir do cerco.

O tempo
era um inimigo que noite a noite era mais cruel,
enquanto o corpo mais fraco 
e a fortaleza sempre estática.
Contudo, era como se envelhecesse 10 anos em 1,
como se as pernas já não pudessem rumar,
e os muros estivessem imponentes sempre no mesmo lugar.

Morreu no início de uma madrugada.
Se alguém pudesse ter dado diagnóstico apontaria: insuficiência pulmonar.
A morte foi acontecimento sem alarde,
pois o coração inchou-se exacerbadamente,
devido aos fungos que nunca deixaram de se reproduzir,
até o ponto de não ter mais como dar um suspiro... um último suspiro de vida.

Jefferson Santana

domingo, 22 de dezembro de 2013

Das impaciências

Não tenho tido paciência com a vida.

Quero o protagonismo da história
mas não sou nem o poema das prateleiras.

Ainda assim, peguei minhas armas e atirei...
rajadas no escuro, no vão,
embora buscasse o muro das indiferenças.

Os muros são surdos,
há muitas vozes retidas,
ecos que se retêm,
ecos que se refletem.

Os muros parecem mudos,
mas há tantos mundos separados por tais,
que é impossível contextos sem textos.

Há pingos pra serem inseridos nos "Is"
e crases ainda não aparentes nos "As".
Nem sempre as frases que berrei foram poesia
e nem sempre a poesia foi entendida em frases,
mas busquei alguma cadência com os versos,
embora tenha restado essa carência de não ser compreendido.

O riso é algum risco na face escancarado,
e alguns rios desaguam em cachoeiras.
Não tenho vivido os riscos
e minhas lágrimas têm se acumulado feito lagoa.
Nem por isso tenho deixado de almejar os mares
de todos esses mundos que me roubaram.

Chamaram-me de poeta dramático,
mas como ser poético sem algum drama?
Acho que carrego desde criança uma ausência,
que mesmo com o coração cheio me falta.
Busco preencher nas folhas essa minha falta...
essas minhas advertências.

Faltam-me as estantes e os instantes de alguns olhos a mim atentos.
Mas as prateleiras também são estáticas e eu quero servir pra alguma coisa.
Quero ser a primeira poesia do amanhecer
e a última que repouse no anoitecer.  

Jefferson Santana

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

bloco de notas

na falta dela
fazia amor com as palavras

não satisfazia a libido
mas na cama
ao revirar as folhas
em algo era correspondido

jefferson santana

domingo, 1 de dezembro de 2013

A (in)capacidade do poeta



Não tinha o que dar de comer aos esfomeados,
nem matar a própria sede nos lábios de seu amor.

Tinha apenas folhas vazias
e muitos pontos pra colocar.

Sabia que cedo ou tarde poderia virar essa página.

Então foi tentar a felicidade por algumas linhas,
na redação de seus sonhos.

Jefferson Santana